Fatos da vida (de um repórter)
Como trabalho no caderno que abrange também Internacional e Brasil, lógico que tenho ficado ligadíssima na questão da tragédia aérea com o avião da Air France. E não consigo deixar de pensar nos profissionais que cobrem um acidente dessa magnitude, com tantas mortes. Fiquei pensando em quantas pessoas acabam condenando a imprensa porque os profissionais procuram as famílias das vítimas. Isso é normal. Pena que quem critica esquece que muitas vezes parentes querem e precisam falar, além do fato do profissional ter que cumprir com seu papel, que é o de informar.
Nessas andanças de tantos anos, acho que não me lembro de nada mais desagradável do que cobrir velório. Além do constrangimento, que na hora do trabalho você sinceramente - e respeitosamente - esquece, tem que lidar com o fato de que ninguém quer falar com imprensa durante o velório de um ente querido. Pois foi num desses que eu passei um momento do qual me envergonho de lembrar. E não existe na vida de todo mundo um momento desses?
Então, estava eu lá no velório de um empresário, com aquela cara de intrusa, mas disfarçando o máximo que podia. Conversei com aquelas pessoas conhecidas, representantes de setores, de instituições, etc, o de praxe. Aí eu vi a filha do empresário, que há muitos anos eu conhecia. Quando cheguei perto, ela logo me abraçou e disse:
- Ai, que bom que você veio, muito obrigada pela força.
Eu fiquei muda. Mas estava ali pra trabalhar e não podia deixar a peteca cair.
- Pois é, que coisa..... Mas desejo de coração que vocês passem por esse momento tão difícil com a força de Deus....
E ela, segurando na minha mão:
- Muito, muito obrigada.......Aí eu não podia deixar passar.
- Eu sei que é muito duro, etc e tal, mas vc poderia dar uma palavrinha pro jornal?
Não precisei dizer mais nada, ela caiu no choro. E eu, com toda dignidade, me afastei. E como uma pessoa educadíssima, menos de cinco minutos ela vem ao meu encontro com o irmão.
- Eu não posso, mas ele fala com você.
Embora tudo tenha "acabado bem", ainda sinto vergonha do fato.
Nessas andanças de tantos anos, acho que não me lembro de nada mais desagradável do que cobrir velório. Além do constrangimento, que na hora do trabalho você sinceramente - e respeitosamente - esquece, tem que lidar com o fato de que ninguém quer falar com imprensa durante o velório de um ente querido. Pois foi num desses que eu passei um momento do qual me envergonho de lembrar. E não existe na vida de todo mundo um momento desses?
Então, estava eu lá no velório de um empresário, com aquela cara de intrusa, mas disfarçando o máximo que podia. Conversei com aquelas pessoas conhecidas, representantes de setores, de instituições, etc, o de praxe. Aí eu vi a filha do empresário, que há muitos anos eu conhecia. Quando cheguei perto, ela logo me abraçou e disse:
- Ai, que bom que você veio, muito obrigada pela força.
Eu fiquei muda. Mas estava ali pra trabalhar e não podia deixar a peteca cair.
- Pois é, que coisa..... Mas desejo de coração que vocês passem por esse momento tão difícil com a força de Deus....
E ela, segurando na minha mão:
- Muito, muito obrigada.......Aí eu não podia deixar passar.
- Eu sei que é muito duro, etc e tal, mas vc poderia dar uma palavrinha pro jornal?
Não precisei dizer mais nada, ela caiu no choro. E eu, com toda dignidade, me afastei. E como uma pessoa educadíssima, menos de cinco minutos ela vem ao meu encontro com o irmão.
- Eu não posso, mas ele fala com você.
Embora tudo tenha "acabado bem", ainda sinto vergonha do fato.
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