Meu pai
Já perdi muita gente que amei. Perdi tios, tias, primos, pessoas do meu convívio, queridas, que me doeram o coração. Mas eu nunca havia perdido uma pessoa essencial na vida, como meu pai. Eu achava que sofreria quando perdesse alguém tão tão amado. Mas eu não tinha a dimensão da dor. É uma dor doída demais, é física. Dá um aperto no peito, uma falta de ar e uma angústia, tudo ao mesmo tempo e tudo rápido se a gente deixar e colocar pra fora. Na véspera de Natal eu segurei. Fui brava. Passei o dia de Natal segurando. Fui forte. Mas ao colocar a cabeça no travesseiro, após um dia em família sem ele, eu desabei. Chorei doído. Levantei, fui ao banheiro e dei vazão a todo sentimento reprimido. E fiquei pensando nele. No jeito dele, na fala, no olhar, nas óperas que ele amava e gravava, no São Paulo. Assistir jogo do São Paulo dói. Mas eu assisto por ele. Uma vez eu vi o padre Fábio de Mello (ô homem bonito!!!!) dizendo que quando perdemos alguém amado, temos até que viver um pouco por quem